Este já é considerado o maior surto desde que o ebola foi descoberto, há cerca de 40 anos. Que doença é essa? 


O ebola é um vírus que, em circunstâncias normais, vive em determinados tipos de morcegos, mas esses animais não ficam doentes. O vírus está na saliva deles e, normalmente, o ciclo se restringe a isso na selva sem causar problemas. Mas, periodicamente, não se sabe ainda exatamente por que, o vírus ebola passa para animais que podem, inclusive, comer carne de morcego como, por exemplo, antílope, porco-espinho, macacos, chimpanzés e gorilas, e pode vir a ser transmitido a outros mamíferos. Também, por circunstâncias também não totalmente esclarecidas, a cada um ou dois anos, há surtos em cidades isoladas no interior da África. Possivelmente, porque as pessoas comem frutas já mordiscadas por morcegos.

Se somarmos todos os surtos de que se tem notícia até hoje, morreram cerca de três mil pessoas, sendo que o atual, sozinho, já matou, neste ano, quase quatro mil. Hoje, o que causa preocupação, além do número de pessoas, é o fato de o surto estar atingindo cidades grandes. A capital da Guiné, Conacri, tem mais de dois milhões de habitantes e é muito pobre. O que acontece? O risco de se disseminar para mais pessoas, num local com mais gente e com poucos recursos, é muito maior.

A gente escuta que o ebola se transmite por fluidos corporais e secreções. O que isso significa?

Urina, fezes, sangue, suor e há até poucos indícios de transmissão sexual, pois já foi encontrado o vírus no sêmen de pessoas doentes. Como é feito o contágio? Eu toco no sangue ou na urina de um doente, por exemplo, não lavo a mão direito e ponho a mão na boca ou no olho. Um corte ou uma ferida no canto dos dedos também seria suficiente para o vírus entrar. Ele é minúsculo, então, se você tiver contato com a saliva de uma pessoa e encostar em um machucado na pele, já poderia contrair o vírus.

Ainda sobre o contágio, o que se sabe até hoje é que, se duas pessoas estiverem conversando – uma com o vírus ebola e a outra não, – ainda que um perdigoto seja lançado, não há evidências de transmissão. Somente se houver sangue, em que a concentração do vírus é bem maior. Mas isso acontece em uma fase tardia da doença, não inicial.

Existe tratamento específico que leve à cura do ebola ou vacina que nos protege do vírus?

Não. Os americanos com suspeita de ebola, atualmente, tomaram métodos experimentais, que nem em animais haviam sido testados. É um tipo de anticorpo monoclonal, isto é, um anticorpo que você fabrica artificialmente, que é muito enriquecido, com alta concentração contra o vírus. Mas, como essa era vista como uma solução ainda muito distante, para se ter uma ideia, a formulação estava sendo produzida em folha de tabaco. Ora, se o planejamento inicial fosse disponibilizar um produto em grande escala, seguramente, não teria seria oferecido em folha de tabaco, não é mesmo?!  O que mostra ser um recurso em fase de testes ainda.

É válido o medo de turistas que planejam viajar para a África?

Eu não planejaria, de jeito nenhum, uma visita aos países com o surto: Guiné, Serra Leoa e Libéria. Outros países já até manifestaram a doença, nessa situação atual – que são o Senegal e a Nigéria-, mas, nessas regiões, a doença não se propagou de forma importante. Então, se tivesse de ter havido outros casos, já teriam aparecido. Agora, por enquanto, estão liberados outros destinos africanos de forte atração turística, como: África do Sul, Quênia, Tanzânia, Angola, Moçambique, Madagascar, Seychelles, Ilhas Maurício, sem nenhum risco de contágio. Curiosamente, há também um surto de ebola ocorrendo, hoje, no Congo, mas sem relação nenhuma com o que abordamos [de Guiné, Serra Leoa e Libéria]. Ou seja, a origem foi outra, bem no interior do país, e o tipo do vírus, inclusive, é diferente. Os dois são ebola, mas, do ponto de vista genético, não são idênticos.

Quais são as recomendações para evitar contágio do ebola?

A primeira coisa é você saber direitinho de onde veio a pessoa que, supostamente, está com o vírus – o que, atualmente, significa ter saído de um dos países que deram origem ao surto atual: Guiné, Serra Leoa e Libéria. Houve algumas breve suspeitas no Brasil, mas de viajantes vindos de outros locais como, por exemplo, um turista que chegou pelo Aeroporto Internacional de Cumbica (Guarulhos, SP), vindo da África do Sul. Essa suspeita não procede.
No entanto, se for uma pessoa originária daqueles três países e manifestar febre e mal estar, não se deve tocar nela e é fundamental telefonar para o Corpo de Bombeiros, que chegará com uma ambulância para transportá-la até o Hospital Emílio Ribas, na capital paulista.

Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Fleury.

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